Os Diferentes Momentos de uma
Campanha de A��o N�o-violenta
Jean-Marie Muller
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X. Negocia��es finais

As negocia��es, mesmo quando se espera racionalmente chegar a um acordo, continuam
se caracterizando uma demonstra��o de for�a e n�o um di�logo que se desenvolveria
com base na confian�a m�tua. Portanto, � fundamental "permanecer atento", n�o
suspender a a��o, n�o dizer e n�o fazer nada que possa desmobilizar os militantes e a
opini�o p�blica, pois seria extremamente dif�cil mobiliz�-los novamente.

Nada seria mais prejudicial que "gritar vit�ria" cedo demais. Uma oferta de negocia��o
pode ser uma armadilha montada para os militantes, com o objetivo de desmobilizar sua
determina��o. Imprescind�vel, portanto, permanecer extremamente vigilantes. Ser�,
talvez, necess�rio aceitar algum tipo de acordo que possibilite ao advers�rio "manter a
dignidade", por�m n�o se deve ceder a nada no que diz respeito ao essencial, com
pretexto de conseguir semelhante acordo, pois este n�o conseguiria distinguir com
imparcialidade as v�timas da injusti�a e os respons�veis pela mesma. � essencial que a
vit�ria do movimento seja tang�vel. S� assim a festa pode come�ar...


XI. Tomar o poder pela base

Uma vez atingido o objetivo, a vit�ria conquistada viria a trazer novas esperan�as a
todos que, por todo o pa�s, sofrem situa��es de injusti�a compar�veis as que estiveram
na origem do conflito que termina. Este exemplo pode, portanto, criar uma din�mica das
lutas populares que mobilizariam cada vez mais trabalhadores e cidad�os decididos a n�o
mais se submeter ao poder que lhe � imposto de cima, a empoderar-se e a exercer seu
pr�prio poder. Atrav�s dessas lutas, ir�o adquirir experi�ncia na gest�o de seus pr�prios
neg�cios, estar�o em aprendizagem de autogest�o.


XII. Organiza��o pol�tica

Essa ascens�o das lutas cria as condi��es que possibilitam � popula��o reunir suas
for�as dentro de uma organiza��o pol�tica, na qual n�o se visa exclusivamente lutar
contra o poder estabelecido, mas tamb�m se apropriar do poder e exerc�-lo n�o mais
segundo o interesse de uma classe dominante, mas de acordo com os interesses da
maioria.

Se a revolu��o n�o-violenta bem organizada come�a por ela pr�pria, tamb�m � correto
afirmar que revolu��o bem organizada termina com a tomada e o exerc�cio do poder
pol�tico. Certamente, a n�o-viol�ncia nos leva a recusar o Estado enquanto institui��o
que se arroga o monop�lio da viol�ncia leg�tima, mas a luta n�o-violenta n�o poderia ser
concebida como uma guerrilha incessante contra os abusos do Estado. Quando o pr�prio
Estado torna-se um abuso � necess�rio lev�-lo � decad�ncia. � imprescind�vel que a n�o-
viol�ncia n�o se enclausure em sua fun��o contestadora, mas que se torne gestora.

Ainda, aqui, a n�o-viol�ncia deve conceber e adotar uma alternativa � gest�o estatizada
da sociedade. Neste aspecto, o projeto n�o-violento aproxima-se do projeto de
autogest�o. A organiza��o que tem um projeto com este escopo deve ser ela pr�pria
auto-gestora; n�o deve, portanto, reproduzir as estruturas dos partidos pol�ticos
tradicionais, os quais, como detentores de um projeto estatizado tamb�m s�o, por sua
vez, organizados segundo o modelo estatizado.


XIII. Tomada do poder pol�tico

Dois cen�rios de tomada de poder s�o poss�veis: o eleitoral e o insurrecional.

Em uma sociedade suficientemente democr�tica para permitir uma real exposi��o do
sufr�gio universal, as elei��es s�o um procedimento normal pelo qual uma organiza��o
que soube conquistar a maioria pol�tica do pa�s chega ao poder. No presente caso, a
altern�ncia abriria o caminho a uma verdadeira alternativa.

Contudo, numa sociedade em que a via democr�tica se encontra obstru�da, um
movimento pol�tico que personifique a esperan�a e a determina��o do povo � obrigado a
tomar uma outra via para ter acesso ao poder que lhe cabe por direito. Referimo-nos aqui
� organiza��o, em escala nacional, da desobedi�ncia civil sistem�tica e de uma chamada
ao povo para uma verdadeira insurrei��o pac�fica.

Antes mesmo da tomada efetiva do poder, os l�deres do movimento de resist�ncia podem
ser considerados representantes da autoridade leg�tima do pa�s e possuem boas raz�es
para constituir um governo paralelo e provis�rio. Pego nas redes de uma resist�ncia
pol�tica espalhada por todo o pa�s, o governo ainda legal dever� acabar admitindo n�o
mais ser capaz de controlar a situa��o. Ser� necess�rio, quer queira ou n�o, ceder seu
lugar.

A mudan�a instaurada pelo simples fato da chegada ao poder dos homens e mulheres que
se inspiram na a��o n�o-violenta seria evidentemente consider�vel. O cen�rio pol�tico de
um pa�s se encontraria conturbado. Entretanto, as reformas necess�rias n�o poder�o se
efetivar de um dia para outro.

Quando se evoca a gest�o n�o-violenta de uma sociedade � fundamental n�o imaginar
uma sociedade ideal onde todos os dem�nios da viol�ncia j� estariam exorcizados e todos
os cidad�os viveriam em perfeita harmonia uns com os outros. Ao contr�rio, � preciso
considerar a realidade com todas as suas contradi��es e tentar conceber sua resolu��o.
N�o se deve partir de um ideal da n�o-viol�ncia para tentar aplic�-lo � realidade, mas, ao
contr�rio, partir da realidade e esfor�ar-se para aproximar-se do ideal.


XIV. A revolu��o permanente

A revolu��o n�o termina com a tomada do poder pol�tico. Essa � apenas um momento de
uma revolu��o que jamais ir� acabar. Pois a revolu��o � permanente...

Notas
Para uma reflex�o mais aprofundada sobre o tema, o leitor poder� consultar a obra de Jean-Marie
Muller, Strat�gie de l'action non-violente, �ditions du Seuil, Collection Points Politiques, 1981. [Estrat�gia
da a��o n�o-violenta]

Para aplica��o da estrat�gia n�o-violenta ao problema espec�fico da defesa, consultar, do mesmo
autor: Vous avez dit: "pacifisme"?, De la menace nucl�aire � la d�fense civile non-violente, Ed. du Cerf,
1984. [Voc� disse: pacifismo? e Da amea�a nuclear � defesa civil n�o-violenta]

M�todos de a��o n�o-violenta
1)Apelo � opini�o p�blica
1.Meios de informa��o e de populariza��o
- Dossi� de imprensa
- Comunicado � imprensa
- Coletiva de imprensa
- Contatos com as associa��es
- Contatos com as organiza��es
- Folhetos, brochuras, livros
- Cartazes, exposi��es
- Reuni�es
- Jornais, revistas
- R�dio, televis�o
- M�sicas, concertos

2.Interven��es diretas
- Manifesta��o
- Marcha
- Teatro-perform�tico
- Sit-in, die-in
- Marcha silenciosa
- Per�odos de sil�ncio
- Corrente Humana
- Jejum

2)Greve de fome por tempo determinado
A��es diretas
1.A��es diretas de n�o-coopera��o
- Devolu��o de t�tulos e condecora��es
- Opera��o "cidade-deserta"
- Greve
- Boicote
- Embargo
- Greve de locat�rios
- Auto-redu��o de tarifas
- Recusa ao pagamento de imposto
- Greve de fome por tempo indeterminado
2. A��es diretas de interven��o
- Ocupa��o
- Obstru��o
- Bloqueio
- Usurpa��o civil

Tradu��o do franc�s: In�s Pollegato. Revis�o T�cnica: Lia Diskin
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