"� Preciso Combater o V�rus da Viol�ncia"
Entrevista de Jean-Marie Muller ao Jornal do Commercio, Pernambuco, em 22/06/2006, por
ocasi�o de sua confer�ncia no III Congresso da Sa�de, Cultura de Paz e N�o-viol�ncia,
realizado entre os dias 19 e 22 de junho, no Recife.
O fil�sofo franc�s Jean-Marie Muller, 67 anos, h� mais de 30 estudando e articulando
cultura de paz no mundo, foi destaque do evento que re�ne secret�rios e t�cnicos da
Sa�de no Recife. "� preciso derrubar muros e construir pontes", disse, defendendo
di�logo, liberdade de express�o e fim das desigualdades.

Jornal do Commercio � O que o Sr. est� dizendo a secret�rios de Sa�de?
Jean-Marie � A viol�ncia � uma doen�a, viola a dignidade humana. Uma sociedade
saud�vel tem que estar engajada na n�o-viol�ncia. � preciso combater o v�rus da
ideologia da viol�ncia, criar e alimentar a filosofia da cultura de n�o-viol�ncia. E formar
estrat�gia de a��o pol�tica.

JC � Que viol�ncias existem no Brasil?
Jean-Marie � N�o conhe�o com precis�o o Brasil, mas tenho uma percep��o. H�
viol�ncia econ�mica e as desigualdades sociais s�o reflexos dela. Mulheres da periferia
dizem sentir medo da a��o da pol�cia. Toda sociedade precisa de pol�cia
institucionalizada. Mas � fun��o dos sistemas de Justi�a e seguran�a construir uma
sociedade n�o-violenta. Infelizmente, � mais comum encontrar for�as de seguran�a
usando viol�ncia para combater viol�ncia, mas ineficientes e incompetentes. Os jovens
precisam ser ouvidos. Ordem e justi�a n�o se estabelecem por meios opressivos. �
preciso melhor conhecimento psicol�gico dos policiais. E que conhe�am a comunidade e a
comunidade os conhe�a para haver confian�a.

JC � � viol�ncia ou express�o de agressividade �s injusti�as um jovem assaltar ou
queimar �nibus em protesto a aumento de passagens?
Jean-Marie � N�o refuto a evid�ncia das injusti�as, mas a� h� viol�ncias. �
responsabilidade do poder p�blico enfrentar a viol�ncia, num primeiro momento, e cont�-
la. A sociedade tem que entender que a viol�ncia como a��o est� proibida, n�o �
caminho salutar. Mas tem que compreender por que jovens est�o usando a viol�ncia
como meio de comunica��o. Seus direitos n�o est�o sendo atendidos e � natural que
n�o respeitem leis.

JC � Como a sociedade deve expressar agressividade, conviver com conflitos e n�o ser
violenta?
Jean-Marie � Deve dar espa�o para expressar pelas palavras a frustra��o. A viol�ncia
para esses jovens � o �nico instrumento que t�m. Devemos responder com di�logo �
viol�ncia que expressam. � pr�prio do capitalismo produzir exclus�o. Mas o comunismo,
em alternativa a ele, n�o foi capaz de criar uma sociedade de liberdade e de direito. A
guerra como instrumento de mudan�a fracassou. A grande id�ia revolucion�ria � a n�o-
viol�ncia e n�o h� f�rmula generalista. � necess�rio derrubar muros e construir pontes. A
viol�ncia faz o caminho inverso.


Secret�rios de sa�de fazem ato pela paz

A chuva torrencial que caiu no Recife impediu a caminhada pela paz programada para
ontem pelos secret�rios municipais de sa�de do Brasil e entidades que comp�em a Rede
Gandhi, de promo��o e estudo da cultura de n�o-viol�ncia. Mas eles fizeram um ato com
o mesmo objetivo, no campus da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), onde se
realizam desde segunda-feira o XXII Congresso Nacional das Secretarias Municipais de
Sa�de, o III Congresso da Sa�de, Cultura de Paz e N�o-viol�ncia e o V Congresso da
Rede Am�ricas.

A viol�ncia, principal causa de morte da popula��o jovem brasileira, principalmente de
sexo masculino, � considerada um dos maiores problemas de sa�de. Durante os
congressos, o tema teve lugar em diferentes discuss�es. A principal ocorreu na tarde de
ontem, no teatro do Centro de Conven��es da UFPE. Reuniu o fil�sofo franc�s Jean-
Marie Muller, que visita o Brasil pela segunda vez (esteve no ano passado em S�o Paulo)
e tem dezenas de livros publicados sobre cultura de paz, o secret�rio de Meio Ambiente
de S�o Paulo, Eduardo Jorge, um dos militantes da reforma sanit�ria, e a professora
Argentina Lis Diskin, da organiza��o Palas Athena, de estudos filos�ficos.

Os eventos ser�o encerrados hoje, com a elabora��o de documento que reunir�
recomenda��es e cobran�as dos gestores municipais para fortalecimento do SUS. Entre
elas, maior financiamento federal para a��es das prefeituras.

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