A Atualidade do
Pensamento Gandhiano
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Ter�o os m�todos de Gandhi alguma relev�ncia nessa grande luta, a ser travada em muitas
frentes e n�veis? O cen�rio econ�mico se mostra cheio de desafios. Alguns s�o graves, a ponto
de afetar muitos fatores dos quais depende a sobreviv�ncia da esp�cie humana.
Vejamos, por exemplo, o efeito da atual tecnologia sobre o meio ambiente. Os motivos e meios
de produ��o, as m�quinas, os produtos qu�micos e outros materiais e processos empregados,
t�m efeitos adversos sobre o ambiente, e alguns deles s�o irrevers�veis. A avidez pelos lucros,
o �mpeto de aumentar a produ��o e ter acesso a recursos naturais, levou � r�pida diminui��o
de bens insubstitu�veis.
Isso n�o acarretou apenas a escassez, mas tamb�m a polui��o do ar, da �gua e do solo, e
tamb�m a perturba��o do ritmo das condi��es clim�ticas, das quais dependemos para nossa
sobreviv�ncia.
Mencionemos agora as id�ias de Gandhi sobre trabalho e meio ambiente. Ele acreditava que
todos os seres humanos nasceram com o dever de trabalhar. Ao contr�rio de outros animais,
que apenas consomem, o ser humano tem tamb�m a habilidade de produzir.
S� produzindo ele pode contribuir para a reposi��o daquilo que tira do patrim�nio geral. Se
consumisse sem repor, seria culpado de viver da natureza como um parasita ou predador, ou
viver dos frutos do trabalho de outras pessoas, explorando-as. Poderia ent�o ser acusado de
furto.
Portanto, todo ser humano deve trabalhar e produzir para pagar seu d�bito com a sociedade e
com a natureza. Sua d�vida s� pode ser paga pelo trabalho, pela diminui��o do consumo e pela
amplia��o do esfor�o para repor o que tira do patrim�nio comum. A ordem econ�mica e social,
portanto, deve ser tal que permita que ele trabalhe, reponha a sua d�vida e proteja o meio
ambiente, heran�a comum e capital de que as futuras gera��es precisar�o.
As religi�es alegam transmitir o conhecimento da realidade e as t�cnicas para descobrir a
verdade mais elevada, que informa e sust�m todo o real. Mas seitas religiosas tamb�m
causaram conflitos. Algumas n�o v�em com bons olhos a ci�ncia e a pesquisa.
A expans�o das fronteiras do conhecimento permitiu � ci�ncia responder a muitas das
perguntas que estavam envoltas em mist�rio e relegadas ao campo da especula��o e da f�
cega. A ci�ncia afastou a supersti��o e levantou quest�es inconvenientes para aqueles que
desejam merecer cr�dito apenas pela f�.
Gandhi definia a religi�o como a ci�ncia da alma. Sua vis�o da verdade como Deus, sua
percep��o de que o lado espiritual da religi�o era mais importante que seus aspectos rituais, e
sua cren�a nas caracter�sticas positivas de todas as religi�es, podem indicar um caminho para
a harmonia.
A diferen�a dos caminhos e m�todos da ci�ncia e da religi�o levou ao ceticismo e ao
materialismo, de um lado, e ao fundamentalismo do outro. As for�as do fundamentalismo
relutam em distinguir entre a esfera da pol�tica e o �mbito da autoridade e hierarquia religiosas.
Os m�todos que o fundamentalismo se inclina a usar est�o cheios de conseq��ncias perigosas:
conflitos violentos, ataques a minorias �tnicas, milit�ncia internacional, atividade belicosa etc.
A humanidade ter� de enfrentar o desafio dos fundamentalismos e encontrar solu��es. Neste
s�culo, teremos tamb�m de descobrir for�as espirituais, capazes de temperar ou domar as
atitudes materialistas e os valores que privam a vida de seus prop�sitos e possibilidades mais
elevados.
Os resultados espetaculares prometidos pelos propagandistas da moderna tecnologia ainda n�o
se concretizaram. Apesar de d�cadas de crescimento industrial, e de mais de uma d�cada do
advento da globaliza��o, a pobreza e o desemprego n�o mostraram sinais de diminuir.
Continuam amea�ando o mundo. As disparidades n�o se atenuaram; ao contr�rio, aumentaram
muitas vezes dentro dos pa�ses e entre eles. N�o quero perder tempo citando estat�sticas
sobre a pobreza, o desemprego, a priva��o e as disparidades.
As condi��es desiguais de com�rcio tamb�m se somam �s desigualdades do lucro comercial.
Falou-se muito de uma ordem econ�mica do novo mundo, da remodela��o de pol�ticas e
institui��es para assegurar acordos mais justos para os pobres, v�timas de explora��o colonial
sutil ou aberta; acordos justos para os pa�ses em desenvolvimento, v�timas do colonialismo e
do imperialismo. Infelizmente, por�m, tais discursos e esfor�os n�o produziram frutos.
Por outro lado, a globaliza��o parece estar encostando os pa�ses em desenvolvimento contra a
parede. A pobreza e o desenvolvimento lento, a necessidade de capital e tecnologia, e as
condi��es impostas pelo Banco Mundial e pelo FMI for�aram muitos deles a aceitar a
globaliza��o.
Aos pa�ses em desenvolvimento, foi dito que receberiam cr�dito, ou que atrairiam
investimentos estrangeiros apenas se abrissem suas economias e dessem, aos investidores de
fora e �s corpora��es multinacionais, os mesmos direitos dos empres�rios nacionais; afirmou-
se que aqueles deveriam poder investir nas �reas da ind�stria, com�rcio, bancos e seguros,
com liberdade para exportar lucros; sustentou-se que as condi��es de emprego tinham de ser
atraentes e vantajosas para tais investidores e corpora��es.
Na maioria dos pa�ses em desenvolvimento, os governos foram obrigados a concordar com
essas condi��es, que parecem t�-los colocado num impasse: n�o t�m como proteger o
empreendedor nacional, nem os trabalhadores, nem os desempregados dentro de suas
fronteiras.
Sei que este n�o � o momento de entrar em discuss�o sobre os pr�s e contras, ou sobre as
conseq��ncias da pol�tica da globaliza��o e da tecnologia em bases globalizadas. No entanto,
sabe-se que o desafio que ter� de ser enfrentado � o imposto �s economias nacionais e �s
aspira��es locais de pleno emprego e sal�rio adequado para os pobres e desprovidos.
Enquanto o mundo tiver Estados-na��o, os governos e sociedades ter�o a responsabilidade de
encontrar solu��es para os problemas do desemprego, da pobreza e dos males que adv�m da
concentra��o da renda, da propriedade e do controle.
Devo terminar agora. Tenho consci�ncia de que n�o fui capaz de fazer justi�a ao tema sobre o
qual lhes falei hoje. H� muitos aspectos do pensamento de Gandhi nos quais n�o pude tocar,
apesar de sua relev�ncia para os desafios que enfrentamos nos dias atuais, em especial
na �rea da pr�tica. Mas espero ter conseguido examinar algumas das quest�es fundamentais
de nosso tempo � luz do pensamento e do m�todo gandhianos.

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