N�o-viol�ncia ativa:
um modo de vida
[p�gina 2/2]
ORA��O: Em 1942 os nazistas destru�ram todos os monumentos da Pol�nia
dedicados a her�is e eventos patri�ticos locais. Os cidad�os ent�o come�aram a visitar
esses lugares vazios e oferecer ora��es. Em 1966, 12 Quakers sentaram-se na galeria
do Senado Americano quando a guerra do Vietnam estava sendo preparada. Eles
rezaram pela paz at� serem presos e levados dali.

BADALAR DOS SINOS: Quando os russos invadiram a Tchecoslov�quia em 1968,
os sinos tocaram como sinal de pesar em todo o pa�s. Na Fran�a ocupada pelos nazistas
o governo ordenou que todos os sinos das igrejas tocassem para celebrar a vit�ria dos
nazistas. Na igreja de Andr� e Magda Trocme, de onde se liderava os cidad�os que
ajudavam os judeus a escapar, a igreja estava trancada e guardada por uma mulher. Ela
encontrava-se em p� diante da igreja e quando a pol�cia veio e perguntou-lhe porque os
sinos n�o estavam tocando como ordenado pelo governo, ela disse: "Estes sinos n�o s�o
do governo, s�o de Deus!"

JEJUM: Gandhi jejuava com freq��ncia como parte de sua luta n�o-violenta.
Quando lhe diziam que o jejum era coercitivo, ele dizia: "Sim, como a cruz". Na It�lia,
quando uma crian�a morria de desnutri��o, Danilo Dolci jejuava para chamar a aten��o
sobre a mis�ria generalizada e o desemprego. Recusava alimento at� que o governo
come�asse a fornecer ajuda. Em 1956 ele liderou 1000 pescadores desempregados num
jejum de 24 horas na praia. Chegou a jejuar contra a M�fia � num barraco no bairro onde
morava um chef�o da M�fia; isto deu a muitos a coragem de denunciar e fornecer
provas dos crimes praticados pela M�fia.

GREVE: Em 1953 houve uma insurrei��o n�o-violenta de trabalhadores na
Alemanha Oriental. Todas as armas foram apreendidas pelos guardas da f�brica. Os
l�deres pediram aos trabalhadores que n�o provocassem o ex�rcito russo. Numa das
f�bricas os trabalhadores foram reunidos antes da chegada do ex�rcito. Alguns
come�aram a xingar e cuspir nas tropas. Os l�deres rapidamente instaram os
trabalhadores a voltar para os locais de servi�o, mas sem trabalhar. Todos seguiram em
ordem para seus lugares.

S�MBOLOS: Quando os nazistas ordenaram a todos os judeus da Dinamarca que
usassem a estrela amarela de Davi no bra�o, o rei da Dinamarca andou de bicicleta por
toda a cidade de Copenhagen usando uma estrela. Logo a maioria dos dinamarqueses
usava uma estrela tamb�m, e os nazistas n�o conseguiam saber quem era judeu e quem
crist�o. Quando as tropas mexicanas atiraram e mataram muitos estudantes na pra�a da
Capital, cruzes vermelhas foram pintadas pelas mo�as nos lugares onde os estudantes
tinham tombado. Apesar da pra�a estar cercada por tropas, a popula��o vinha depositar
flores sobre as cruzes. Ao sa�rem dirigiam-se aos soldados e diziam: "Porque apontam
armas para n�s? Voc�s s�o oprimidos tamb�m".

CAN��ES: A m�sica pode ter um grande poder de mobiliza��o da resist�ncia
popular. Os alem�es que resistiam ao nazismo de Hitler eram fortalecidos por sua
can��o: "Die Gedanken sind frei" (Os pensamentos s�o livres). A can��o ajudava as
pessoas a lembrarem que Hitler n�o podia controlar suas mentes se elas n�o
permitissem. No movimento pelos direitos civis, "We Shall Overcome" (N�s Venceremos)
e "O Freedom" (� Liberdade) levaram �nimo �s pessoas durante os dias mais dif�ceis de
sua luta.

HUMOR: At� o humor pode fortalecer a resist�ncia de um povo. Depois da
Segunda Guerra Mundial os russos ocuparam a �ustria. L� erigiram uma enorme est�tua
de Stalin, mas o povo queria que os russos fossem embora. Certa noite os estudantes
amarraram uma mala � m�o da est�tua, e todos deram boas risadas. Sob o comunismo
os poloneses tinham uma piada a respeito daquela forma de governo: "Qual a diferen�a
entre comunismo e capitalismo? Sob o capitalismo, as pessoas exploram as pessoas. Sob
o comunismo � o contr�rio".

N�O-COOPERA��O: Se as pessoas t�m poder que delegam ao estado pela
aceita��o de suas pol�ticas, ent�o podem retirar este poder recusando-se a cooperar
com estas pol�ticas. N�o � preciso que isso assuma a forma de um desafio aberto. Pode
ser uma obstru��o lenta, calculada, deliberada, daquelas leis e pol�ticas ofensivas. H�
muitos exemplos de tal n�o-obedi�ncia generalizada. Muitos dinamarqueses e
noruegueses deixaram de cooperar com as ordens nazistas sobre os judeus. Oficiais
nazistas que se opunham a Hitler faziam "corpo mole". Escreviam relat�rios longos e
detalhados para clarificar � e atrasar � as ordens de Hitler. Eles se tornaram �timos em
cometer errinhos bobos at� que Goebels queixou-se amargamente de sua "sabotagem
silenciosa". Certa vez alguns prisioneiros judeus escaparam e o ex�rcito enviou um
telegrama pedindo refor�os urgentes. A jovem telegrafista arriscou sua vida atrasando o
envio do telegrama por quatro horas. Quando os refor�os chegaram, a fuga j� tinha sido
um sucesso. Um historiador do per�odo nazista escreveu: "Hitler, que desprezava a
opini�o do mundo e n�o dava ouvidos � raz�o, podia ser totalmente enfraquecido por
uma lenta obstru��o".

Estes s�o apenas uns poucos tipos de n�o-viol�ncia ativa. Para aqueles que
dizem: "Mas depois que tudo foi tentado, a viol�ncia ser� necess�ria", a quest�o � que
nem tudo foi tentado ainda. A maioria dos movimentos de mudan�a social mal
come�aram a experimentar o verdadeiro poder e flexibilidade da n�o-viol�ncia.
Geralmente, recorre-se � n�o-viol�ncia por um ano ou dois, ou cinco, e depois
recrudesce a viol�ncia durante uma gera��o. Talvez uma das maiores descobertas do
s�culo XX � o verdadeiro poder de movimentos n�o-violentos em massa; antes deste
s�culo a maioria das tentativas de uso da n�o-viol�ncia era de indiv�duos ou pequenos
grupos.

Outros dizem que a n�o-viol�ncia � muito lenta. � verdade que algumas
revolu��es violentas s�o muito r�pidas, mas algumas s�o muito lentas. O mesmo vale
para as revolu��es n�o-violentas. Alguns ditadores s�o depostos rapidamente por
guerrilhas armadas, mas outros ca�ram de repente diante de insurrei��es de estudantes
desarmados. Por outro lado, tanto Gandhi quanto Mao levaram 25 anos para completar
suas revolu��es. Certamente a teoria da n�o-viol�ncia n�o � t�o poderosa quanto a
a��o violenta. O que estou dizendo � que devemos estar dispostos a dedicar tanta
disciplina, tempo e sacrif�cio � mudan�a n�o-violenta quanto dedicamos � mudan�a
violenta.

No m�nimo, devemos ser t�o cr�ticos no exame da viol�ncia quanto somos no
questionamento da n�o-viol�ncia. A viol�ncia foi amplamente testada durante o s�culo
XX. O mundo hoje geme sob o peso do poderio militar. Mais da metade dos cientistas do
mundo est�o empenhados em desenvolver mais m�todos, mais assustadores, de
destrui��o em massa. A prolifera��o de armas nucleares aumenta diariamente a
possibilidade de uma cat�strofe global. E se gast�ssemos ao menos 5% dos recursos
hoje gastos em viol�ncia em esfor�os de mudan�a pac�fica?

Na luta pela liberta��o da �ndia, Gandhi foi pioneiro ao liderar uma na��o �
independ�ncia atrav�s da filosofia da n�o-viol�ncia. No Jap�o, desde o bombardeio
at�mico de Hiroshima e Nagasaki, os budistas japoneses t�m sido incans�veis no seu
testemunho contra a guerra, a favor de um Jap�o sem armas e uma ordem mundial de
coopera��o. Em Israel, o Oz Ve' Shalom trabalha para que se reconhe�a que a paz s�
ser� poss�vel se houver justi�a tanto para �rabes como israelenses. Por toda a Am�rica
Latina a Comiss�o de Justi�a e Paz trabalha por uma liberdade inclusiva dos dois pilares
da justi�a e da paz.

A brutal ditadura de Marcos nas Filipinas foi derrubada por uma massa de pessoas
desarmadas, que simplesmente se recusaram a cooperar com suas imposi��es, e
invadiram as ruas numa revolu��o popular sem precedentes. Em 1989 e 1990 os
governos totalit�rios do Leste Europeu ca�ram, n�o devido a um ataque militar, mas
diante do poder desarmado da popula��o. A luta que continua ali e na antiga Uni�o
Sovi�tica pela democracia s�o exemplos extraordin�rios do que Vaclav Havel chamou "o
poder dos sem-poder".

Estes s�o apenas alguns exemplos das "experi�ncias com a Verdade" no s�culo
XX. Estes exemplos abriram o caminho da n�o-viol�ncia ativa para tratar dos problemas
de guerra e opress�o que se arrastam h� s�culos. Muitas vezes s�o poucos esses
movimentos, operando em terreno n�o mapeado. Mas deles come�am a emergir as
implica��es infinitas do amoroso prop�sito de Deus para a ra�a humana.

Richard Deats � diretor da FOR � atividades inter-religiosas dos Estados Unidos.
Ele ministra workshops de n�o-viol�ncia ativa nas Filipinas, Corea do Sul, �frica
do Sul, Hong Kong, Tail�ndia, nos Estados Unidos e na R�ssia. Este artigo foi
extra�do de "Essays in Nonviolence", editado por Therese de Conninck.

Traduzido do original em ingl�s com a permiss�o de Fellowship of Reconciliation e
Season for Nonviolence.

[Tradu��o: T�nia Van Acker � Revis�o T�cnica: Lia Diskin]
voltar
p�gina anterior