Declara��o de Veneza
1. Estamos testemunhando uma importante evolu��o no campo das ci�ncias, resultante das
reflex�es sobre ci�ncia b�sica (em particular pelos desenvolvimentos recentes em f�sica e
embriologia), pelas mudan�as r�pidas que elas ocasionaram na l�gica, na epistemologia e na
vida di�ria mediante suas aplica��es tecnol�gicas. Contudo, notamos ao mesmo tempo um
grande abismo entre uma nova vis�o do mundo que emerge do estudo de sistemas naturais
e os valores que continuam a prevalecer em filosofia, nas ci�ncias sociais e humanas e na
vida da sociedade moderna, valores amplamente baseados num determinismo mecanicista,
positivismo ou niilismo. Acreditamos que essa discrep�ncia � danosa e, na verdade, perigosa
para a sobreviv�ncia de nossa esp�cie.

2. O conhecimento cient�fico, no seu pr�prio �mpeto, atingiu o ponto em que ele pode
come�ar um di�logo com outras formas de conhecimento. Nesse sentido, e mesmo admitindo
as diferen�as fundamentais entre Ci�ncia e Tradi��o, reconhecemos ambas em
complementaridade e n�o em contradi��o. Esse novo e enriquecedor interc�mbio entre
ci�ncia e as diferentes tradi��es do mundo abre as portas para uma nova vis�o da
humanidade e, at�, para um novo racionalismo, o que poderia induzir a uma nova
perspectiva metaf�sica.

3. Mesmo n�o desejando tentar um enfoque global, nem estabelecer um sistema fechado de
pensamento, nem inventar uma nova utopia, reconhecemos a necessidade premente de
pesquisa autenticamente transdisciplinar mediante uma din�mica de interc�mbio entre as
ci�ncias naturais, sociais, arte e tradi��o. Poderia ser dito que esse modo transdisciplinar �
inerente ao nosso c�rebro pela din�mica de intera��o entre os seus dois hemisf�rios.
Pesquisas conjuntas da natureza e da imagina��o, do universo e do homem, poderiam
conduzir-nos mais pr�ximo � realidade e permitir-nos um melhor enfrentamento dos desafios
do nosso tempo.

4. A maneira convencional de ensinar ci�ncia mediante uma apresenta��o linear do
conhecimento n�o permite que se perceba o div�rcio entre a ci�ncia moderna e vis�es do
mundo que s�o hoje superadas. Enfatizamos a necessidade de novos m�todos educacionais
que tomem em considera��o o progresso cient�fico atual, que agora entra em harmonia com
as grandes tradi��es culturais cuja preserva��o e estudo profundo s�o essenciais.

A UNESCO deve ser a organiza��o apropriada para procurar essas id�ias.

5. Os desafios de nosso tempo, �o risco de destrui��o de nossa esp�cie, o impacto do
processamento de dados, as implica��es da gen�tica, etc. �jogam uma nova luz nas
responsabilidades sociais da comunidade cient�fica, tanto na inicia��o quanto na aplica��o
de pesquisa. Embora os cientistas possam n�o ter controle sobre as aplica��es das suas
pr�prias descobertas, eles n�o poder�o permanecer passivos quando se confrontando com
os usos impensados daquilo que eles descobriram. � nosso ponto de vista que a magnitude
dos desafios de hoje exige, por um lado, um fluxo de informa��es para o p�blico que seja
confi�vel e cont�nuo e, por outro lado, o estabelecimento de mecanismos multi-
transdisciplinares para conduzirem e mesmo executarem os processos decis�rios.

6. Esperamos que a UNESCO considere este encontro como um ponto de partida e encoraje
mais reflex�es do g�nero num clima de transdisciplinaridade e universalidade.

Signat�rios: A.D. Akeampong (Ghana; f�sico-matem�tico); Ubiratan D'Ambr�sio (Brasil;
educador matem�tico); Ren� Berger (Su��a, cr�tico de arte); Nicol� Dallaporta (It�lia;
f�sico); Jean Dausset (Fran�a; Pr�mio Nobel de Medicina); Maitraye Devi (�ndia; poetisa);
Gilbert Durand (Fran�a; fil�sofo); Santiago Genov�s (M�xico; antrop�logo); Akshai Margalit
(Israel; fil�sofo); Yujiro Nakamura (Jap�o; fil�sofo); David Ottoson (Su�cia; Presidente do
Comit� Nobel de Filosofia); Abdus Salam (Paquist�o; Pr�mio Nobel de F�sica); L.K. Shayo
(Nig�ria; matem�tico); Ruppert Sheldrake (Inglaterra; bioqu�mica); Henry Stapp (USA;
f�sico); David Suzuki (Canad�; geneticista); Susantha Goonatilake (Sri Lanka; antropologia
cultural); Besarab Nicolescu (Fran�a; f�sico); Michel Random (Fran�a; escritor); Jacques
Richardson (USA; escritor); Eiji Hattori (UNESCO; Chefe do Setor de Informa��es); V.T.
Zharov (UNESCO; Diretor da Divis�o de Ci�ncias).

voltar